Todos nós conhecemos a sensação: abrimos a tela (notebook, smartphone, tablet), começamos a ler, fazemos algumas anotações e, em questão de minutos, temos a nossa atenção capturada por uma notificação, uma notícia, um anúncio ou qualquer outra interação digital que nos pareça mais prazerosa do que estar focado em uma só tarefa. De repente, o tempo de trabalho ou estudo que parecia tão exaustivo é substituído por horas de descarga de dopamina (hormônio do prazer) e outras recompensas de neurotransmissores ligados ao sistema de recompensas rápidas do nosso cérebro.
E o foco para aprender, para onde foi?
Se você se identificou com a situação descrita e sente que com a pandemia episódios como este ficaram ainda mais frequentes, respira: você não está sozinho. A dificuldade nos processos de concentração e aprendizagem é só uma das características do efeito denominado como “cérebro pandêmico”, o conjunto de consequências psicológicas e neurais causadas pelo longo período de exposição ao estresse e à ansiedade durante esse período.
Apesar de não ser um termo clínico, o fenômeno estudado pela Universidade de Cambridge, no Reino Unido, explica que o cerne dos problemas de disposição e foco estão justamente no mundo exterior e naquilo que não podemos controlar: as questões de saúde que nos afligem em coletivo, o distanciamento social, a carência de interações etc. Além de um cérebro afetado pela pandemia, a forma como conduzimos a nossa rotina digital pode ser crucial para compreendermos o porquê do processo de aprendizagem parecer tão doloroso e difícil em alguns casos. Spoiler: tem a ver com exaustão e a teoria da carga cognitiva.
Entendendo a exaustão: Teoria da carga cognitiva
Primeiro, é preciso compreender que nós não estamos necessariamente exaustos de aprender. A nossa exaustão tem mais a ver com o contexto em que estamos – que afeta diretamente o nosso desenvolvimento – e com um modelo antigo de aprendizagem baseado em excesso de informação e resultados instantâneos.
E por que isso acontece?
Duas hipóteses que conversam entre si: primeiro, porque boa parte do nosso processo de aprendizagem é social, ou seja, construído em coletivo, nas interações interpessoais e nos benefícios de uma rotina que incluía sair de forma segura de casa, pegar transporte, estar cara a cara com colegas em uma reunião. Coisas que ficaram de lado quando a pandemia surgiu e trabalho e vida doméstica se misturaram – pelo menos para quem tem a possibilidade do home office. A outra hipótese está na teoria da carga cognitiva, desenvolvida pelo psicólogo australiano John Sweller. Nela, o cérebro humano é descrito como uma espécie de processador com alguns limites:
Bom, não precisamos ir muito longe para perceber que lidar com aulas 100% online, trabalho remoto e reuniões no Zoom não só limitou completamente o nosso processo de aprendizagem social, como também sobrecarregou a cognição de todos nós – uma vez que não tínhamos nenhuma memória no processador dos nossos cérebros para lidar com essas questões. Com tantas telas nessa equação, o que acontece com nosso processo de aprendizagem agora?
O fato de estarmos cada vez mais imersos nas telas – ora por necessidade, ora por dependência – tem efeitos diretos no nosso processo de aprendizagem. Alguns deles, são:
O termo criado pelo físico espanhol Alfons Cornellá, em 1996, se refere aos sintomas da sobrecarga da informação. No processo de aprendizagem, a infoxicação age sempre que sentimos que há mais conteúdo a ser absorvido do que tempo para aprender; quando temos baixa retenção sobre aquilo que lemos ou consumimos; e quando sentimos stress e tensão frente ao desafio de um novo aprendizado;
O Fear of Missing, ou ‘medo de está perdendo algo’ em livre tradução, anda lado a lado com o excesso de informação. Esse efeito acontece quando somos invadidos pelo medo de ficar para trás que surge quando muita gente ao seu redor parece estar aprendendo algo novo, fazendo dezenas de cursos, reinventando a roda. Quando entramos nesse ciclo, não apenas não conseguimos dar vazão ao nosso ritmo de aprendizagem natural, como também entramos em um ciclo de comparação, acúmulo de tarefas e exaustão.
A mente fliperama funciona assim: vamos supor que aparecia um desejo genuíno de estudar alguma coisa. Logo na sequência víamos por aqui todos os dias tantas dicas, leituras e referências úteis que passamos a sentir a nossa atenção como a bolinha de um fliperama. Batendo de cá pra lá e com muita dificuldade de aterrissar. E também com toda a ansiedade que essa overdose de conteúdo traz: a sensação constante de não fazer o suficiente, de saber o suficiente
o excesso de informação. Esse efeito acontece quando somos invadidos pelo medo de ficar para trás que surge quando muita gente ao seu redor parece estar aprendendo algo novo, fazendo dezenas de cursos, reinventando a roda. Quando entramos nesse ciclo, não apenas não conseguimos dar vazão ao nosso ritmo de aprendizagem natural, como também entramos em um ciclo de comparação, acúmulo de tarefas e exaustão.
Para lidar com tantos efeitos é preciso que a gente construa uma rotina digital e de aprendizagem com foco no equilíbrio das telas, no exercício da atenção e nos aprendizados que mais importam. Preparamos um passo a passo para uma rotina mais saudável de aprendizagem a seguir:
1. Construa uma rotina digital:
Antes de construirmos uma rotina de aprendizagem que vá na contramão da exaustão, é essencial construir uma rotina digital que vise diminuir os efeitos colaterais das telas sobre a nossa aprendizagem. Vale estabelecer horários de início de uso (idealmente sem ser a primeira coisa do dia), intervalos intercalando atividades offline (um passeio no parque, uma prática de ioga, ler um pouco por prazer) e um horário limite para desligar as telas (qual foi a última vez que você conseguiu fazer isso?).
2. Pratique a dieta da informação:
Cortar os excessos e focar no que realmente importa é essencial na hora de aprender. Para isso, pratique a dieta da informação:
3. Exercite a atenção ativa:
O nosso foco é uma construção contínua e, para alcançá-lo, é necessário exercitar uma atenção ativa durante a aprendizagem. Para isso, existem algumas dicas: prepare o ambiente para o momento do estudo, desligue as notificações do celular, planeje as suas horas de aprendizado e, sobretudo, encontre uma intenção para o seu dia.
4. Os aprendizados que mais importam: lifelong learning
Parte de construir uma rotina de aprendizagem é entender que nós podemos aprender o tempo todo. E que, por mais que isso possa parecer exaustivo, a ideia de aprendizado que duram a vida toda tira o peso do imediatismo, da ansiedade e dos resultados instantâneos.
5. Aprender é um processo, respeite o seu
O processo de aprendizagem é aquilo de mais precioso que temos enquanto seres racionais. É incrível poder pensar, articular informações, formular ideias e colocar projetos no mundo. Mas às vezes nos afastamos desses objetivos por encararmos o ato de aprender quase como um consumo desenfreado. Precisamos aprender mais para galgarmos uma nova posição no trabalho, precisamos provar para a sociedade que o que sabemos tem valor. E, assim, vamos tratando conhecimento como acúmulo, esquecendo que a jornada pode ser mais significativa.
Que tal ser mais gentil consigo mesmo e lembrar que todo aprendizado é um processo?
*Este material foi produzido pela Contente, a convite da Pearson. Para mais conteúdos relacionados à internet, bem estar nas telas e educação digital acompanhe a Contente no instagram @contente.vc e o movimento #ainternetqueagentequer no site www.ainternetqueagentequer.com