Danielle de Souza Costa, PhD e psicóloga
Em parceria com pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), a Pearson se perguntou como estava a saúde mental dos educadores de sua rede de parceiros nesses duros tempos de pandemia. Cento e um educadores da rede participaram da pesquisa científica, sendo que 70 apresentaram dados válidos para análise e é desse grupo os resultados que vamos apresentar aqui. Todos foram voluntários do estudo e, por isso, somos muito gratos.
A pesquisa foi realizada entre 10 de setembro de 2020 a 03 de novembro de 2020 por meio da plataforma Surveymonkey. A maioria dos participantes declarou ser do sexo feminino (84%), ter escolaridade equivalente ao nível superior (83%), ser casada (78%) e trabalhar entre 4 e 8 horas por dia (62%). A maior parte dos voluntários diz lecionar em uma (50%) ou duas (30%) modalidades do sistema educacional, sendo as principais Ensino Fundamental I e II e Ensino Médio. Contamos com a participação de profissionais ocupando outros cargos, como coordenação pedagógica (11%) e diretoria (11%), porém 64% eram professores.
Nesta pesquisa, saúde mental seria definida como o nível de bem-estar psicológico de uma pessoa. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS)¹, a saúde mental é um componente integral e essencial da saúde, portanto, é mais do que apenas a ausência de transtornos mentais ou deficiências:
“A saúde mental é um estado de bem-estar no qual o indivíduo percebe suas próprias habilidades, pode lidar com as tensões normais da vida, pode trabalhar de forma produtiva e é capaz de contribuir para sua comunidade. A saúde mental é fundamental para nossa habilidade coletiva e individual, como humanos, de pensar, se emocionar, interagir uns com os outros, trabalhar e aproveitar a vida.”
A saúde mental de uma pessoa depende de muitos fatores, incluindo aspectos biológicos, psicológicos e sociais que lhe influenciam ao longo de toda a sua história de vida. Para avaliar o estado de saúde mental dos participantes, usamos duas estratégias: perguntar sobre possíveis diagnósticos recebidos ao longo da vida, incluindo atualmente, e através do Inventário Breve de Sintomas, o BSI².
Os transtornos investigados na pesquisa seguem os parâmetros indicados no DSM-5: Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais³. Vinte e nove porcento (29%) relataram ter ou já ter recebido algum diagnóstico de transtorno mental. Desses, a maioria (87%) relatou apenas um transtorno mental na vida. Entre os transtornos investigados, foram selecionados com maior frequência insônia (20%), ansiedade generalizada (18%), depressão (16%) e transtorno de pânico (14%). Esse perfil não parece muito distinto daquele encontrado no país e ao redor do globo, o qual sugere que problemas de saúde mental estão entre os fardos mais significativos afetando a funcionalidade dos seres humanos4,5.
O Inventário Breve de Sintomas (BSI) avalia o nível de estresse negativo, incômodo ou angústia percebidos pela pessoa em relação à 53 problemas ou sintomas psicológicos que ela possa ter vivido, nos últimos 7 (sete) dias. Quanto mais problemas a pessoa tiver vivido e maior a angústia (de nenhuma à extrema) que ela percebe sentir em decorrência desses problemas, maior será a sua pontuação no Inventário Breve de Sintomas (BSI). Sendo assim, pontuações mais altas indicam maior distress psicológico (isto é, menos saúde mental). No BSI, 7% dos participantes apresentaram um escore elevado de Gravidade Global (igual ou superior ao percentil 95) e 16% um escore de desconforto acima da média brasileira (entre percentil 75 e 95)6. Entre as dimensões investigadas, problemas como queixas somáticas, sensações de inadequação e inferioridade pessoal, autodepreciação, dúvida de si mesmo, incômodo perceptível durante interações interpessoais e alienação interpessoal parecem trazer um sofrimento maior para a maioria dos participantes com escores mais altos no BSI. A necessidade de melhorar a qualidade de vida no campo psicológico é percebida por cerca de 37% dos participantes.
A educação é o maior recurso de mudança positiva de uma nação7, cuidar do capital mental de nossos educadores faz apenas sentido. Em todo tempo.